Sendo a reabilitação um processo contínuo que se deverá manter ao longo da vida das pessoas com deficiência, é de primordial importância que a criança cega seja estimulada desde a mais tenra idade, auxiliando-a, através do tato, da voz e do olfato, a compreender o mundo que a circunda.   A intervenção precoce tem aqui um papel preponderante. Mas é preciso não esquecer o papel que a família deverá ter neste processo. Por isso, os pais da criança devem ser chamados a nele participar. Não raro, a cegueira dos filhos causa-lhes uma terrível angústia, porque não estavam preparados (ninguém está), para lidar com a deficiência. 

E como funciona a intervenção precoce de crianças cegas no nosso país? Os técnicos que a fazem dialogam e nela envolvem a família? Infelizmente, embora se tenham iniciado os primeiros passos neste campo, muito há a fazer.  No que se refere ao Ensino, cada vez mais se assiste a uma aliteracia, entre os jovens cegos. Os suportes áudio e digital contribuíram para que a maioria dos cegos de hoje tenha relegado para último plano o uso da escrita e leitura do Braille. Embora, esses suportes possam e devam ser usados, eles não substituem, nem o podem fazer, o contacto direto com a leitura que o sistema Braille proporciona nem o prazer que o leitor experimenta, dando a sua própria interpretação e entoação aos textos que lê. Além disso, como não visualiza as palavras, ao escutá-las tão-somente, surgem dúvidas quanto à sua grafia e não deixa de ser lamentável que um jovem cego, por vezes licenciado, não saiba escrever corretamente, dando erros aberrantes. 

As novas tecnologias não servem de desculpa, para o cometimento de tais falhas, pois existem linhas Braille que se podem conectar ao computador. 

A reabilitação dos jovens cegos é uma lacuna muito grave que hoje subsiste. Muitos deles não se orientam sozinhos, dependendo inteiramente da família e dos amigos. Além de não darem um passo sozinhos, não raro não sabem comportar-se à mesa nem usar convenientemente os talheres. 

Isto para já não falar de posturas incorretas do corpo que utilizam.    

Porquê acontecem tais coisas? Porque nunca foram ensinados. Sim ensinados, visto que as crianças normovisuais podem aprender muita coisa por imitação, utilizando a visão, o que não é possível às crianças cegas. Dir-me-ão que esses jovens têm famílias.  Sim é verdade, mas quem explicou a essas famílias como deveriam proceder com os seus filhos? 

E qual foi o papel dos técnicos de Intervenção Precoce e de Educação Inclusiva? 

As adaptações dos currículos dos jovens com necessidades especiais tiveram em conta a importância da orientação e mobilidade dos alunos cegos ou da prática de atividades desportivas (como por exemplo a natação ou a ginástica, para exercitar os seus movimentos de coordenação) ou atividades da vida diária (como aprender a cozinhar ou fazer a sua toilette de forma autónoma)?  

É verdade que em Lisboa existe um Centro de Reabilitação para adultos. Trata-se do Centro de Reabilitação de Nossa Senhora dos Anjos. Todavia, a palavra reabilitação, como o seu próprio nome indica, destina-se a voltar a habilitar as pessoas que, por vicissitudes da vida, perderam determinadas capacidades. Refiro-me àquelas que perderam a visão na adolescência ou vida adulta. 

E os cegos congénitos, se não adquiriram essas competências na infância ou na adolescência, quem se irá ocupar deles? 

São estas reflexões que gostaria de exprimir e que apelo a todos vós que nelas meditem com seriedade.