O Braille é importante na minha vida porque...

Alexandre Almeida

"(...)  hoje, ao contrário daquilo que em tempos sucedia, consigo vislumbrar que não se trata apenas de um veículo que os portadores de deficiência visual têm à disposição para poderem aceder a um determinado conteúdo, mas que, por outro lado, representa uma forma de chegar até ele de um modo tão intenso como se chegaria por intermédio da visão. Destarte, um ficheiro áudio, por exemplo, nunca possibilitará o acesso do ouvinte aos pormenores ortográficos da mesma forma que o Braille possibilita, pois todos somos capazes de reconhecer que é substancialmente distinta a audição de um certo vocábulo, que apenas coloca à nossa disposição elementos fonéticos, da leitura de uma palavra, com a inerente apreensão da forma como se encontra redigida. Assim, e não obstante os assombrosos e beneméritos avanços tiflotecnológicos a que hodiernamente assistimos, o Braille tem-se mantido praticamente imune à passagem do tempo."

Irina Francisco

"(...)  é – e foi sempre – essencial para mim. Foi ele que tornou possível e bem-sucedido o meu percurso escolar e académico, que me permite ainda hoje ler, por prazer ou necessidade. Possibilita-me igualdade de oportunidades no ensino, no trabalho, na vida quotidiana. Profissionalmente, é também o que me permite ensinar aos outros, porque é através dele que aprendi e que aprendo todos os dias. Com o Braille posso aprender e ensinar, posso desfrutar de um livro, posso reconhecer o medicamento certo ou escolher o andar para onde quero ir no elevador. Se o Braille não fizesse parte da minha vida, seria seguramente uma pessoa bem diferente daquilo que sou hoje. Não tenho dúvidas de que foi uma das ferramentas mais importantes na minha formação, pessoal e profissional."

Jorge Fernandes

"(...) permitiu-me continuar a ler e a escrever mesmo nos momentos da minha vida em que a visão deixou de desempenhar essa função. Não o uso de forma regular no meu dia-a-dia, pois ainda privilegio a leitura e a escrita através de suportes de ampliação digital, mas sinto-me capaz de, a qualquer momento, passar a usar o sistema Braille. Hoje, agradeço ao sistema de ensino português - e aos seus profissionais - o facto de me terem sugerido e dado a oportunidade de adicionar ao meu currículo escolar a aprendizagem do Braille. É importante, mesmo para quem tem baixa visão, como eu, aprender Braille. A baixa visão é uma fronteira na qual é fundamental prepararmo-nos para mais do que um cenário. Ainda hoje ressoam na minha cabeça as palavras da minha professora de apoio no início dos anos 80 quando me confrontou com a ideia: “vais lá aprender Braille como aprendes Francês ou Inglês. O que te parece?” Pergunta a que eu respondi, um pouco receoso: “está bem!” Ainda bem que o fiz."

José António Baptista

"(...) se revelou um terreno onde pude trabalhar com alegria, durante mais de 65 anos, desfrutando pequenas e grandes satisfações e realizando-me ao ver os obstáculos a serem ultrapassados. O Braille esteve na base da minha valorização como homem, pela cultura, e da minha integração social, pelo trabalho.

Como exemplo de pequenas satisfações, recordo esse dia de felicidade em que me entregaram a pauta de Braille e comecei a escrever. Enchi uma página com letras de seis pontos. Como exemplo de grandes satisfações, recordo, ainda no Instituto do Porto, a leitura de revistas infantis vindas do Brasil; e também de antigos livros de leitura que já não se usavam na aula mas que, por serem desconhecidos, eram realmente interessantes!

Depois do Instituto e ao fim de muitas lutas, pude continuar os estudos e fazer o curso liceal. O liceu era a mais cara das minhas aspirações. Para isso copiei volumes e volumes, especialmente durante as férias, e cheguei a transcrever textos e livros que não existiam em Braille e me foram ditados. Nas lições, além deste material, utilizei obras que me vieram do estrangeiro e tirei muitos apontamentos, que depois organizei com algum cuidado.

A confeção do material em Braille para estudar, embora trabalhosa, revelou-se compensadora. Em diversas ocasiões os meus livros e apontamentos foram emprestados a uma boa meia dúzia de companheiros cegos que, dispensados do esforço que eu fizera, tiraram deles o melhor proveito. Sentia-me verdadeiramente participante no esforço colectivo ao valorizar-me e ao ajudar os outros a valorizarem-se também, numa altura em que o então Centro de Produção do Livro para o Cego ainda não tinha começado a publicar obras relacionadas com o ensino liceal.

O empenhamento em criar para mim próprio as melhores condições de estudo e a perspetiva de que amanhã o meu material pudesse servir a outros levaram a que me preocupasse com a perfeição do mesmo. Esta preocupação, reforçada pela leitura da revista "Poliedro" que entretanto apareceu, conduziu-me ao estudo e à familiaridade com as principais questões postas pelo Sistema Braille e à prática cada vez mais esmerada da grafia braille e da estenografia. Passados alguns anos, obtidas as habilitações académicas para que as minhas tendências me solicitavam, aquela familiaridade e aquela prática revelaram-se circunstâncias muito favoráveis a que pudesse concorrer e ganhar um lugar como funcionário do Centro Prof. Albuquerque e Castro."

Marta Pinheiro

"(...) me deu acesso ao que de mais valioso podemos conquistar, o conhecimento.

Uma das primeiras recordações que tenho da escola, é o meu fascínio por aqueles pontinhos mágicos que me davam a oportunidade de conseguir ler e escrever como os meus colegas. Nessa fase, a minha visão já não era suficiente para ler e escrever a tinta. Apesar de ser através de um sistema obviamente diferente, o objetivo final estava alcançado. Para a menina de então, ávida por tudo que fosse possível de aprender, o Braille foi a porta aberta para os livros que ainda hoje me acompanham em todos os momentos. Foi a chave para a descoberta do mundo das letras e dos números, e tão importante como tudo  isso ajudou-me a construir a minha visão do mundo e da realidade.

Para mim enquanto pessoa cega, saber Braille é saber ler e escrever no verdadeiro sentido das palavras. 

Ler e escrever são tarefas que implicam interiorizar ideias e conceitos num processo mental e cognitivo impar, que só nos é acessível através da leitura e da  escrita em Braille. Os leitores de ecrã são muito práticos e cómodos, e vieram revolucionar e melhorar substancialmente o acesso à informação para as pessoas com deficiência visual, mas ouvir está longe de ser o mesmo que ler. Não podemos, contudo, esquecer que a informática e as novas tecnologias contribuem cada vez mais e melhor para a utilização deste sistema de escrita, seja ao nível do desenvolvimento de programas e funcionalidades, seja desenvolvendo e aperfeiçoando equipamentos que nos permitem ler em Braille a informação presente no ecrã do computador.     

É impossível imaginar a minha vida diária sem o recurso ao Braille. Utilizo-o para escrever no telemóvel por exemplo, bem como para identificar medicamentos e embalagens de variadíssimos produtos de uso diário que cada vez em maior número estão devidamente identificados. E claro que sendo eu verdadeiramente apaixonada pela leitura, dificilmente consigo passar um dia sem ler algumas páginas de um livro. Estes são alguns dos muitos exemplos  do quanto o Braille é importante para mim, e de como essa importância constante me faz ter a certeza que este sistema tão simples deve ser cada vez mais valorizado para benefício de todos quantos o utilizam e utilizarão no futuro."

Patrícia Fernandes Soares

"(...) Enquanto  facilitador no acesso à educação, possibilitou ter continuado a acompanhar as aulas e a estudar em iguais circunstâncias, facilitando a assimilação, a retenção e a interpretação de diferentes saberes; na reabilitação, porque permitiu desenvolver-me e aceitar a minha nova condição, e socialmente, pela interacção com os outros, com serviços e produtos.  Acima de tudo, e independentemente da tecnologia a que se possa complementar, o Braille é importante na minha vida pela verdadeira autonomia que só o acesso à palavra escrita permite, para um melhor acesso à informação, cultura e inclusão. Obrigada, Louis Braille!"

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