Dia 5 de maio, celebra-se o Dia Europeu da Vida Independente.

Um dia para assinalar e promover a importância da Vida Independente para as Pessoas com Deficiência ou Incapacidade.

Criado através do decreto-lei n.º 129/2017, o programa Modelo de Apoio à Vida Independente (MAVI) permite dar assistência pessoal às pessoas com deficiência para a realização de um conjunto de atividades que não possam realizar sozinhas, de acordo com as suas necessidades, interesses e preferências.

Esta assistência é disponibilizada pelos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI), as entidades responsáveis por colocar em prática os projetos de assistência pessoal.

Este projeto-piloto foi desenvolvido inicialmente para um período de 36 meses, tendo sido posteriormente aprovados pedidos de alargamento dos projetos.

A ACAPO disponibiliza o serviço de assistência pessoal através dos seus três Centros de Apoio à Vida Independente: CAVI Norte, CAVI Centro e CAVI Lisboa.

 

Para assinalar este dia partilhamos consigo este pequeno vídeo do nosso CAVI Centro e o testemunho de Paula Primo, Assistente Pessoal do nosso CAVI Norte.

 

Celebre connosco a Vida Independente!

 

Eu, Assistente Pessoal

Uma “pitada” de acontecimentos que tornam a vida da pessoa com deficiência visual mais independente

São imensas as tarefas em que eu, assistente pessoal, dou o meu apoio/contributo, seja numa ida às compras, numa consulta médica, num passeio, nas tantas caminhadas, numa visita cultural, no ginásio… Todas aquelas atividades que fazemos no nosso dia-a-dia e que precisamos de simplesmente ver. Um exercício que costumo “aconselhar” para se ter uma pequenina ideia, é tentar fazer uma ou duas coisas básicas do nosso quotidiano, mas de olhos fechados. É claro que pensamos sempre que alguém por perto, familiar ou não, ajudará!

“Em tempos de Ego, quem vê o outro é Rei!”

Poder acompanhar uma/um destinatária/o a um simples encontro de amigos, numa qualquer esplanada (importantíssimo em termos psicológicos/socialização para esta/e) é fazer com que esta/e destinatária/o possa agendar este momento para um dos dias em que tem apoio com a/o sua/seu AP (e isto é autonomia, é ter oportunidade de escolha, de decisão, de organização, tão básico, não é?).

Poder ir às compras e usufruir de uma descrição detalhada feita pela/o sua/seu AP em relação ao produto que pretendem adquirir é bastante diferente da que o familiar lhe proporcionaria (por vários motivos, sejam eles o stress do dia-a-dia; menor sensibilidade; a saturação; a tão só, indisponibilidade que muitas vezes não deixa margem para outro comportamento). O mais usual é, entre a experiência de uma ida às compras e lhe fazer chegar o produto a casa ou às mãos, indicando-lhe que é aquele que costuma comprar, esta última ganha força.

São muitas as experiências que poderia aqui partilhar e que, só de me preencherem a memória, me deixam de sorriso aberto. Ainda, hoje, registo o momento em que uma das minhas destinatárias foi à praia “molhar os pés” e que saltava como uma criança de alegria. Ou então, com outra destinatária, e numa das minhas descrições do meio envolvente, o episódio da descoberta, da existência da “bola da nívea” na praia e que levou a uma questão constrangedora aquando da chegada a casa: “-Ó mãe, nunca me disseste que havia uma bola azul da nívea na praia?!” – cumpre revelar que deu aso a umas belas gargalhadas dos presentes e que bem que soaram… Com outro destinatário, que me levou a conhecer a sua localidade, literalmente, pois ele é que dava as instruções, se para a esquerda ou direita, isto em cada caminhada que fazíamos. A dado momento, ao passarmos uma ponte antiga, onde ele costumava passar e, ao ler a placa ali existente, descobrimos que se tratava de uma ponte de origem romana. Diz-me ele: “- Se não estivesse aqui consigo hoje, dificilmente iria saber disto!”. Parafraseando uma outra destinatária que apoio: “… a deficiência visual é o menor dos seus problemas…” e, de facto, com todas as comorbidades que, diariamente gere da melhor forma, consegue sempre ter uma boa disposição e espírito aventureiro mesmo em situações caricatas que nos acontecem aquando dos apoios. Uma que vou para sempre recordar, foi quando fomos de comboio até à Escola de Cães Guia em Mortágua. E, com todo o espírito aventureiro que a situação exigiu destaco acima de tudo o facto da destinatária ter confiado inteiramente em mim e na minha sugestão de saída do comboio em Pampilhosa quando lhe disse: “- Vamos ter de saltar para a plataforma!”. E, ao fim da contagem, mais precisamente aos 3, lá demos um salto bem alinhado com aterragem perfeita na plataforma da estação. Pode parecer estranho e de alguma forma “fora da caixa”, mas a distância entre o degrau do comboio (levava-me, aqui para outras discussões, mas que não são agora, para aqui reclamadas) e a plataforma não me deixou outra alternativa e felizmente correu bem. Desde esse dia que ficou candidata, em lista de espera, para ter o seu cão-guia, em breve. Com outro destinatário, já com cão-guia e com mais autonomia, é sempre um prazer transcrever dedicatórias no seu livro.

Eu sei, algumas destas histórias são coisas simples e sem importância para quem tem vidas atribuladas e que até dizem, não terem tempo a perder, que não valorizam o passar de uma borboleta ou o cantar dum qualquer passarinho… Escrevi logo no início que “trabalho” com pessoas sensíveis e curiosas com o mundo que as rodeia. Que bom que assim é, cada descrição minha, conta, acrescenta e constrói.

Obrigada!

Paula Primo - Assistente Pessoal do CAVI Norte da ACAPO