Lusofonia ganha protagonismo no movimento global da deficiência visual
ACAPO aproveitou o momento para estreitar relações com os países de língua portuguesa
A 11.ª Assembleia Geral da União Mundial de Cegos (WBU), integrada no Encontro Mundial da Deficiência Visual e realizada entre 1 e 5 de setembro no Centro de Convenções Distrito Anhembi, em São Paulo, ficou marcada como uma das mais significativas de sempre na história do movimento internacional das pessoas cegas e com baixa visão. O evento reuniu mais de 2.000 pessoas, oriundas de aproximadamente 120 países.
Na eleição para a Direção (mandato 2025-2029), Santosh Kumar Rungta (Índia) assumiu a presidência, Cristina Chamorro (Espanha) foi eleita 1.ª vice-presidente, Yaw Ofori-Debrah (Gana) tornou-se 2.º vice-presidente, Moisés Bauer Luiz (Brasil) foi escolhido secretário-geral e Alejandro Antonio Paz Ambrosio (Guatemala) tesoureiro.
A composição reflete maior protagonismo do Sul Global. Líderes da América Latina, África e Ásia reforçaram a necessidade de transformar a representatividade formal em ações concretas, nomeadamente no acesso equitativo a tecnologias de apoio, na capacitação das organizações nacionais e regionais e na criação de oportunidades reais de participação.
Pela primeira vez, o português foi idioma oficial do encontro, um passo histórico que reforça o papel da lusofonia e abre caminho para a possibilidade de acolher futuros eventos do movimento global. A ACAPO teve igualmente a oportunidade de estreitar relações com os países de língua portuguesa, reativando fluxos de comunicação e preparando iniciativas conjuntas a curto prazo.
A eleição do brasileiro Moisés Bauer Luiz para secretário-geral abre novas possibilidades de cooperação entre Brasil, Portugal e os países africanos de língua portuguesa. Representantes de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau sublinharam a urgência de democratizar o acesso a tecnologias adaptadas e de fortalecer políticas inclusivas, aproveitando a língua comum como ponte de articulação internacional.
Com recorde de participantes e transmissões oficiais em quatro idiomas (português, espanhol, inglês e francês), o evento foi considerado “o mais marcante de todos os tempos”.
Como novidade, foi criado, pela primeira vez, um espaço de acervo digital e físico do Encontro Mundial da Deficiência Visual. Este acervo reunirá registos audiovisuais das transmissões multilingues, entrevistas, documentos e resoluções, artigos, testemunhos e produções jornalísticas. Todo o material será disponibilizado em formatos acessíveis (compatíveis com leitores de ecrã, Braille digital e traduções em várias línguas), consolidando-se como uma biblioteca viva da inclusão global.
“O acervo é um património coletivo. Permitirá que as futuras gerações compreendam a evolução da luta das pessoas com deficiência visual e se inspirem nos avanços alcançados”, destacou um dos organizadores.
Com estatuto consultivo junto da ONU, a WBU inicia assim um novo ciclo de gestão, cercado de expectativas para que o movimento internacional se torne mais próximo das bases e mais atento às realidades do Sul Global e da comunidade lusófona.