Na semana em que se assinalou o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade de Informação (17 de maio) e o Dia Mundial da Consciencialização para a Acessibilidade (19 de maio) a ACAPO organizou um debate com o mote: ”Será a Internet verdadeiramente acessível a todos?”.

Portugal foi dos primeiros países a nível mundial a legislar sobre esta matéria. Passados mais de 20 anos há ainda um grande caminho a percorrer particularmente no setor público.  No setor privado, o caminho é praticamente inexistente - a legislação portuguesa ainda não prevê, por exemplo, que os sites e aplicações dos supermercados e lojas sejam acessíveis, o que teria sido fundamental para a autonomia das pessoas com deficiência visual nos períodos de confinamento. Que dizer também das ferramentas de teletrabalho, muitas das vezes baseadas em sítios web ou ferramentas de comunicação digital de difícil utilização?

A acessibilidade tem que ser contemplada no design e no desenvolvimento destas plataformas desde a raiz. Importa encontrar o equilíbrio certo entre a acessibilidade (para que todos possam aceder e utilizar) e a cibersegurança (para que os acessos e a informação sejam legítimos e estejam seguros). Na teoria o conceito da acessibilidade WEB funciona, mas na prática a realidade não é essa e muitas pessoas com deficiência, em particular, as com deficiência visual, veem-se impedidas de aceder a conteúdos ou serviços web. Porquê? Estaremos cada vez mais com uma WEB em que o que mais importa é “parecer” (ter um layout visualmente impactante) do que “ser” (disponibilizar funcionalidades que qualquer pessoa possa utilizar)?

Para debatermos em conjunto estas questões, convidámos várias personalidades especialistas nesta matéria. Para moderar a sessão, Pedro Pinto, docente de Informática e Investigador do Instituto Politécnico da Guarda e responsável pelo maior site de tecnologia de Portugal. Como oradores tivemos Jorge Fernandes, Equipa de Experiência Digital - Divisão de Transformação Digital na AMA – Agência para a Modernização Administrativa, I.P. que nos falou da história da acessibilidade WEB em Portugal, do validador automático AccessMonitor, dos selos de usabilidade e acessibilidade e do relatório português de acessibilidade WEB que o nosso país apresentou à União Europeia. Já Daniel Serra, co-responsável pelo portal “Ler para Ver - o maior site em Portugal sobre a deficiência visual falou-nos do ponto de vista de um utilizador onde abordou a evolução da acessibilidade na Internet ao longo dos tempos e da respetiva interação com leitores de ecrã. Por fim, contámos com a presença de Rui Batista, programador bastante reputado que falou das condicionantes do ponto de vista de quem programa, da utilidade de se utilizar bibliotecas e frameworks e como é que os cidadãos com deficiência visual devem reportar bugs de acessibilidade.

Do evento saíram as seguintes ideias:

Infelizmente, a Internet é um mundo que ainda não é totalmente inclusivo para todos. Há muito ainda a melhorar. Em Portugal as pessoas que mais dificuldades têm ao navegar na WEB são as pessoas com baixa visão, os cidadãos daltónicos e as pessoas cegas. Já na navegação dos sites, tendencialmente é possível andar pelos mesmos, ainda que por vezes possa não ser possível executar-se uma ação que poderá ter um grande impacto no objetivo que levou o cidadão a visitar o portal em causa. Os programadores são pessoas que programam para pessoas e uma das grandes lacunas na sua aprendizagem está na ausência da acessibilidade nos cursos de informática administrados pelos estabelecimentos de ensino portugueses.

Da parte da ACAPO, continuaremos nesta e noutras matérias a pugnar pelos direitos das pessoas com deficiência visual e a incrementar a literacia dos cidadãos cegos e com baixa visão. 

Se não teve oportunidade de assistir ao Debate, pode fazê-lo agora no link: Será a Internet um mundo inclusivo para as pessoas com deficiência visual? - YouTube

 

Imagem ampliada de um teclado de computador branco onde se vê a tecla enter com o ícone de um homem com uma bengala. Por baixo, o texto: Desafios da Acessibilidade Web em Portugal. Será a Internet um mundo inclusivo para as pessoas com deficiência visual?