Testemunho de Henrique Ribeiro

Henrique Ribeiro
A rotina repete-se de segunda a sexta-feira no número 44 da Avenida de Roma, em Lisboa.
Às sete da manhã já Henrique Ribeiro aguarda pela chegada do primeiro paciente. O dia começa duas horas antes com uma sessão de meditação onde aproveita para fazer uma retrospetiva do dia anterior e que serve de preparação para mais um dia de trabalho. A primeira pausa chega pontualmente ao meio-dia e termina por volta das duas, salvo alguma “emergência”. Só às sete da tarde é que a porta do consultório de Henrique Ribeiro volta a ser encerrada para no dia seguinte abrir impreterivelmente às sete da manhã.
Nesta breve introdução faltou apenas dizer que Henrique Ribeiro tem 74 anos e que há 15 se reformou da sua atividade principal. “Na verdade eu não me reformei. Deixei de dar aulas e passei a dedicar-me à psicologia clínica e quando me convidam vou a congressos, normalmente de psiquiatria”. O que até era o caso na semana em que foi entrevistado para a LOUIS BRAILLE. Dentro de poucos dias iria até Barcelona para participar num congresso na qualidade de orador. Um compromisso repetido vezes sem conta ao telefone, isto porque Henrique Ribeiro faz questão de ser ele próprio a atender as chamadas telefónicas do consultório e a gerir a própria agenda.
Esta proatividade aliada a uma atitude positiva perante a vida supõe serem caraterísticas que herdou do pai: “Ele tinha 96 anos e ainda ia à caça. Não era rezingão nem tão-pouco revoltado com o futuro. Talvez tenha herdado isso dele… ou talvez seja genético”. Por outro lado, são também virtudes que Henrique Ribeiro cultiva desde os 14 anos, idade a que cegou: “Quando ceguei pensei 'eu sou inteligente, hei-de fazer alguma coisa da vida!'. Isto quando a maioria das pessoas poderia pensar que eu teria de pedir esmola, pois em 1950 era esse o destino que se traçava a uma pessoa cega”.
Contrariando esta expetativa, aprendeu várias profissões, licenciou-se em filosofia e psicologia e foi docente no ensino secundário e superior. Aos 60 anos, quando se reformou, decidiu que iria continuar a envelhecer tal como sempre o tinha feito – ativamente.
“Quando levamos uma vida regrada e temos uma alimentação cuidada e sabemos viver, envelhecer é quase um prazer. Dentro de poucos meses vou fazer 75 anos e tenho esta cara! E danço, monto a cavalo, nado, viajo…”. O verbo parar é que por enquanto não faz parte do léxico de Henrique Ribeiro. “Por agora ainda estou na posse das minhas faculdades mentais a 100%. Irei trabalhar enquanto estiver lúcido, o que pode acontecer é eu perder a lucidez e trabalhar mal [risos] mas para isso conto com a atenção do meu filho e da minha mulher”.